Você conhece o movimento feminista?

7/30/20244 min read

A palavra feminismo costuma ser associada à ideia de mulheres lutando por direitos que os homens lhes têm negado ao longo da história da humanidade. O que poucos sabem é que o movimento feminista teve três ondas com características bem diferentes e que ainda hoje temos mulheres militando em cada um desses três feminismos. Mais recentemente, já neste século, uma quarta onda do movimento emergiu, mais abrangente tematicamente, e muito focada no uso da tecnologia para sua disseminação, fortalecimento público, e avanço de suas bandeiras

Contexto Histórico

O feminismo, como movimento social e político, tem raízes na luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres a partir do século XVIII, em um contexto de revoluções, como a americana e a francesa, e da influência do Iluminismo, que promoveu ideias de igualdade e direitos universais.

A Revolução Industrial também desempenhou um papel relevante para seu surgimento, com a crescente presença das mulheres no mercado de trabalho e as mudanças nas estruturas familiares e sociais dela decorrentes.

Primeira onda: feminismo pré-moderno (séculos XVIII e XIX).

A inserção das mulheres no mercado de trabalho no período de revolução industrial e grandes guerras ocorreu sem que seus direitos fossem garantidos. As jornadas de trabalho eram abusivas e os salários baixos, e seus filhos, crianças e adolescentes, também trabalhavam nas indústrias como mão de obra barata.

O Movimento Feminista surgiu nesse contexto, onde as mulheres lutavam por condições dignas de trabalho para que o homem pudesse ganhar o suficiente para sustentar toda a sua família e, assim, elas e seus filhos não precisassem trabalhar para compor a renda familiar. No feminismo pré-moderno, as mulheres queriam ficar em casa cuidando da família, educando os seus filhos e permitindo que as crianças tivessem uma infância saudável.

Nesse sentido, o Movimento concentrou sua luta em questões legais e políticas, como a garantia do direito de voto à mulher, da igualdade perante a lei e de sua participação política. As mulheres queriam participar ativamente dos espaços de decisão para que, a partir deles, o contexto socioeconômico fosse mudado e o mercado de trabalho se tornasse justo.

Segunda onda: feminismo moderno (Décadas de 1960 a 1980).

A segunda onda do Feminismo desenvolveu-se em contexto significativamente distinto da primeira. O século XX, notamente a partir de sua segunda metade, caracterizou-se pela disseminação organizada de narrativas identitárias, por intermédio de movimentos sociais representantes de parcelas da população, como os negros e as próprias mulheres, e mais recentemente as pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneras (LGBT). Por trás dessas expressões, estava a crença de que a humanidade deveria valorizar e promover o ser subjetivo de cada indivíduo, ao invés do ser objetivo, isto é, racional de cada um, rompendo com o mundo moderno, iluminista, e se tornando um mundo pós-moderno. Como decorrência, a sociedade passou a valorizar os desejos e emoções individuais, e assim o ter direitos para desfrutar dos seus próprios prazeres e vontades.

Influenciadas por essa mentalidade, as mulheres que antes priorizavam o lar agora buscavam experimentar o mesmo estilo de vida dos homens: ter independência financeira e poder desfrutar do sexo sem ter as consequências de uma gravidez indesejada, isto é, ter o “direito ao aborto voluntário em qualquer situação ou estágio da gravidez”. As mulheres passaram a lutar por igualdade, não apenas por equidade, comparando-se aos homens em todas as esferas e situações da vida. Para além da equiparação salarial com os homens e de oportunidades iguais, as mulheres passaram a lutar por uma vida igual à dos homens.

A segunda onda do Feminismo foi caracterizada, portanto, por movimentos por direitos civis e de contracultura. Buscava-se igualdade plena no local de trabalho, garantia de direitos sexuais e reprodutivos (leia-se “aborto legal”) e a desconstrução de normas sociais consideradas opressivas.

Terceira onda: feminismo pós-moderno (1990 – 2010).

O mundo pós-moderno, no qual estamos, nega a razão, afirmando que a realidade é aquilo que nós imaginamos e construímos. As pessoas podem ser o que quiserem, independentemente inclusive de sua condição biológica.

Essa visão de mundo também está presente no feminismo pós-moderno, que foi marcado pela defesa da diversidade de gênero e de identidades, da construção livre e subjetiva do ser, e da naturalização de relações com o mesmo sexo.

Nessa onda do Feminismo foi que as narrativas sobre diferentes formas de opressão (baseadas em raça, classe, orientação sexual, etc.) que afetariam as mulheres de distintas maneiras reverberaram-se e se desenhou e disseminou a ideologia de gênero.

Também foi nesse período que houve forte aproximação de ideias e ações do Movimento Feminista com o Movimento LGBT.

Quarta onda: ativismo digital (2010 até o presente momento).

A atual onda do movimento feminista caracteriza-se por uma abordagem mais inclusiva e digital, aproveitando as tecnologias modernas e as redes sociais para promover a igualdade de gênero e abordar questões contemporâneas.

Há intenso e permanente uso das redes sociais para mobilização, conscientização e ativismo; há um foco significativo em questões como assédio sexual, violência de gênero e cultura do estupro; há ainda mais discriminação de grupos populacionais dentro do próprio movimento: mulheres negras, indígenas, LGBT, etc.; e há uma forte ênfase na autonomia corporal das mulheres, particularmente na luta pela legalização do aborto voluntário.

Como se constata, a história recente do Movimento Feminista, notadamente a partir de sua segunda onda, afasta-se cada vez mais até se tornar totalmente incompatível com os valores e princípios de uma mulher e um movimento de mulheres conservadoras. Saiba mais no artigo: O Movimento Feminista versus o Movimento Mulheres Conservadoras.