Ideologia de Gênero: Ideias e implicações sociais

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8/6/20246 min read

A ideologia de gênero é um conjunto de crenças, ideias e pensamentos que visa à desconstrução da identidade e da sexualidade humana e, a partir disso, a desconstrução da família natural enquanto base de toda sociedade humana. Enquanto uma ideologia, ela é um objeto que se move no terreno da retórica. Ela não visa contemplar a verdade, mas persuadir, convencer. Seu objetivo é operativo, prático: a ideologia (e, particularmente, a ideologia de gênero) busca provocar uma transformação no modo de pensar das pessoas, incutindo novas crenças.

Enquanto uma ideologia, a perspectiva de gênero nasceu no bojo da teoria crítica marxista, notadamente a partir da década de 1990. O marco histórico nesse sentido foi a publicação do livro “Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade” de Judith Butler em 1990. Nessa obra e nas que a seguiram, Butler apresenta uma nova concepção de identidade pessoal. A autora afirma que não há identidade sexual natural, bem como não há identidade psicosocial natural.

Para Butler (1990), o fato de nascer com órgão sexual masculino ou feminino não determina o sexo do indivíduo, nem tampouco sua identidade sexual. Como salienta a autora, “não existe uma identidade definida [...] uma região do “especificamente feminino”, diferenciada do masculino como tal (Butler, 1990, p. 17, 22). Isso seria uma reificação, isto é, a “coisificação” de algo que é pura produção ideológica. “O sujeito, o eu, o indivíduo, são conceitos falsos, só tem realidade linguística” (idem, p. 49, 50).

Sob essa ótica, o termo sexo e a atribuição de um sexo (masculino ou feminino) a um indivíduo, que lhe conferem sua identidade sexual, constituem construções sociais, realidades linguisticamente construídas. “Não há [portanto] um ou dois sexos, mas tantos sexos quantos há indivíduos” (idem, p. 206). Da mesma forma, o gênero, isto é, a identidade psicosocial do indivíduo, não pode ser categorizada, mas assume expressões e variações ilimitadas, como um reflexo da “diversidade humana”.

Uma vez que o caráter imutável do sexo é contestável e se defende que o próprio construto chamado “sexo” é tão socialmente construído quanto o gênero, a distinção entre sexo e gênero perde sua validade e utilidade. Sexo e gênero seriam, igualmente, criações culturais, puras produções linguísticas e ideológicas em determinado tempo. Daí adotar um único termo para tratar da identidade pessoal: o termo “gênero”, que compreenderia tanto a identidade sexual como a identidade psicosocial construídas dos indivíduos.

A defesa da ideia de “identidade de gênero” possibilitou a disseminação de discursos variados em nome da “igualdade de gênero”. Inicialmente, tal discurso foi apropriado pelo movimento feminista e pelo movimento negro, que defendiam a igualdade de direitos entre homens e mulheres brancos, negros e indígenas, respectivamente, nas diversas esferas públicas e privadas.

A indiferenciação entre as categorias “homem” e “mulher”, “masculino” e “feminino”, implicava a eliminação de relações de opressão entre sexos e raças/ etnias: a “mulher”, o “negro” e o “índio”, os sujeitos oprimidos, e o “homem” e o “branco”, os sujeitos opressores. Uma vez que homens e mulheres, brancos, negros e indígenas, eram iguais, o acesso, as oportunidades, as retribuições e os papeis sociais por eles desempenhados deveriam ser semelhantes, sem qualquer diferenciação por sexo, raça e etnia. Nesse contexto, o termo “gênero” correspondia ao sexo biológico dos indivíduos, às diferenças sexuais entre homens e mulheres de raças e etnias distintas.

O discurso pela “igualdade de gênero” ganhou novos contornos, porém, já no início dos anos 2000, quando ele se tornou a principal bandeira do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). Passou-se a defender a “igualdade de gênero” não apenas enquanto igualdade entre homens e mulheres, mas também como igualdade entre homens, mulheres, transgêneros, travestis, dentre outros “gêneros” possíveis.

No bojo desse movimento, a ideia de Butler (1990, 2015) de “identidade de gênero construída” passou a ser propagada tal como por ela postulara. A “identidade de gênero” dizia respeito tanto à identidade sexual quanto à identidade psicosocial de cada indivíduo, por ele mesmo construídas ao longo de sua vida. Negava-se e buscava-se superar o binarismo “homem” e “mulher” para incluir outras possibilidades identitárias como os transgêneros, as com gênero fluído, as drag queens, e o genderqueer. Enquanto seres complexos, os humanos possuiriam identidades de gênero diversas e, portanto, qualquer discurso a favor da igualdade deveria compreender todos os “gêneros” existentes, para além do “sexo biológico binário”.

A compreensão de que a identidade sexual de um indivíduo consiste em uma construção pessoal ao longo da vida, desvinculada do sexo biológico, não está baseada em evidências científicas (Mayer e McHugh, 2016). Os estudos científicos comprovam que o sexo biológico, isto é, as categorias binárias de masculino e feminino, é um aspecto fixo da natureza humana: a sexualidade é uma característica biológica binária objetiva, nas quais “XY” e “XX” são marcadores genéticos saudáveis – e não marcadores genéticos de uma desordem (AcPeds, 2017).

Alguns indivíduos, porém, apresentam desordens extremamente raras no desenvolvimento sexual, que incluem, entre outras, a feminização testicular e a hiperplasia adrenal congênita. Tais desvios são medicamente identificáveis e são reconhecidos como desordens da formação humana. Indivíduos que as portam não apresentam uma terceira identidade sexual, apenas um desvio genético (idem, 2017).

Há, ainda, indivíduos que são afetados por distúrbios sexuais que provocam características ambíguas do sexo. Denominados “disforia de gênero” ou “transtorno de identidade de gênero”, esses distúrbios decorrem de uma desordem mental pela qual um menino biologicamente saudável acredita que é uma menina ou uma menina biologicamente saudável acredita que é um menino. Nesses casos, há um problema psicológico objetivo, que está na mente, não no corpo, e deve ser tratado dessa forma.

A disforia de gênero é um distúrbio extremamente raro e solucionável. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 2017), 98% dos meninos e 88% das meninas confusos com seu “gênero” superam essa disforia e aceitam e assumem sua identidade sexual natural ao passar pela puberdade.

Quando, porém, há intervenção por meio de bloqueadores de puberdade e de hormônios do sexo oposto para personificar outra identidade sexual, as crianças e adolescentes a ela submetidas apresentam maiores chances de sofrer graves problemas de saúde, tais como pressão alta, AVC e câncer (AcPeds, 2017).

Além disso, há evidências claras de que a mudança de “identidade”, oposta ao sexo biológico, não produz necessariamente bem-estar para o indivíduo. Pelo contrário, as taxas de suicídio entre adultos que usam hormônios do sexo oposto e passam por cirurgias de mudança de sexo são significativamente maiores que a de adultos sem disforia de gênero. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre a subpopulação transgênera, a taxa de tentativa de suicídio é estimada em 41%, o que corresponde a dez vezes a taxa de tentativa de suicídio da população geral (Mayer e McHugh, 2016).

Para fins de exemplificação, pode-se citar a experiência da Inglaterra e da Escócia. A Inglaterra tem testemunhado uma explosão de casos de crianças com problemas de identidade desde 2010. Em cinco anos, até 2015, o número de crianças submetidas a tratamento psicológico no Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido aumentou 1.000% [1].

De forma semelhante, na Escócia, em apenas quatro anos, o número de crianças encaminhadas para tratamento de disforia de gênero subiu 500%. Em 2013, apenas 34 crianças foram enviadas para apoio especializado a crianças com disforia de gênero. Em 2016, a quantidade de atendimentos chegou a 150 crianças, o que corresponde a um crescimento de quase 5 vezes em apenas três anos [2].

Enquanto Movimento de Mulheres Conservadoras, nós acreditamos nas evidências científicas. Por isso, defendemos o acolhimento e o cuidado necessários para todas as mulheres e homens que, em algum momento de sua vida, vivenciarem a “disforia ou transtorno de gênero”, respeitando sempre a escolha e a decisão de cada um.

Notas:

[1] Fonte: http://portalconservador.com/ideologia-de-genero-eleva-em-1-000-o-numero-de-criancas-em-tratamento-no-reino-unido/

[2] Fonte: http://www.bbc.com/news/uk-scotland-40716736

Referências Bibliográficas

AcPeds, American College of Pediatricians. Gender Ideology Harms Children. Disponível em https://www.acpeds.org/the-college-speaks/position-statements/gender-ideology-harms-children. Acesso 03 out, 2017.

APA, American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. Disponível em: https://www.psychiatry.org/psychiatrists/practice/dsm. Acesso 18 jul, 2017.

Butler, J. (1990). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Mayer, L. S.; McHugh, P. R. (2016). Sexuality and Gender. Findings from the Biological, Psychological and Social Sciences. The New Atlantis. A journal of technology and society. Special Report. Fall.